Dec 30 de 2024
Rede de transmissão precisa ser ampliada
30/09/2024
Interligação dos parques eólicos e solares do Nordeste com o Sudeste é prioridade
Nas últimas duas décadas, a matriz elétrica brasileira se transformou, com avanço de usinas solares e eólicas e da geração distribuída (GD) solar, tornando planejamento, operação e expansão muito mais complexos. Em 2001, quando o país sofreu o maior racionamento de sua história, cerca de 90% da eletricidade era proveniente de hidrelétricas, com o
restante vindo de termelétricas. Hoje, as hidrelétricas respondem por cerca de metade da geração do país, com usinas solares e eólicas ficando com 30%.
Isso impõe desafios. Um é a expansão da transmissão para escoar projetos de energia renovável do Nordeste, cujos ventos alísios e a irradiação estão entre os mais fortes do mundo, para o Sudeste, maior centro consumidor do país. O consumo per capita residencial nos nove Estados do Nordeste está em 1.516 kWh por habitante, enquanto no Sudeste está em 2.739 kWh por habitante ao ano.
O avanço de empreendimentos solares e eólicos aumenta a complexidade da operação. No jargão do setor, são consideradas fontes de eletricidade variáveis, por serem influenciadas por fatores climáticos (sol e vento) e caracterizadas pela
alta variabilidade e sazonalidade, que pode ser diária, mensal ou até anual. Essa variabilidade é maior que no caso de usinas térmicas ou hidrelétricas com reservatório.
Conforme cresce a inserção das fontes renováveis, aumentam os desafios para a operação do sistema elétrico relacionados à segurança e à confiabilidade de suprimento, que precisa ser garantido mesmo em momentos sem vento ou sol. Um exemplo pode ser visto durante a tarde, quando o país registra a maior demanda de energia, por conta do uso de aparelhos de ar-condicionado.
Hoje, entre o horário do almoço e o fim da tarde, boa parte da carga do país é atendida pela geração distribuída solar. Quando o sol se põe, as 4 milhões de instalações de geração distribuída solar deixam de gerar e passam a consumir. No jargão do setor, assiste-se a uma rampa, como se milhões de aparelhos de ar-condicionado e chuveiros fossem ligados ao mesmo tempo. Essa rampa chega em alguns momentos a 33 GW de capacidade - cerca de um terço da potência usada. Estima-se que possa chegar a 50 GW em 2027, segundo projeções do Operador Nacional do Sistema (ONS).
“O equilíbrio entre segurança energética, descarbonização e equidade no uso da energia é o grande desafio da transição energética. As mudanças climáticas tornam ainda mais complexo o dilema de operar e planejar o sistema”, afirma Luiz Carlos Ciocchi, ex-diretor geral do ONS.
Nesse cenário, ganha importância a flexibilidade de operação, ou seja, a capacidade de compensar desequilíbrios entre geração e carga, como quando o sol deixa de brilhar no meio da tarde. O sistema elétrico precisa operar com uma capacidade instalada maior do que a necessária para atendimento do consumo médio por energia. Essa reserva de potência (uma folga para ser usada em momentos em que a demanda sobe e há dificuldade em acionar usinas solares ou eólicas, por exemplo) cria a necessidade de precificar atributos.
As hidrelétricas ou térmicas oferecem a possibilidade de funcionarem como grandes baterias do sistema, armazenando energia que pode ser escoada de forma imediata, sem depender de fatores climáticos. Ou seja, essas fontes passam a ter um outro valor além da geração de eletricidade, podendo funcionar como baterias. Isso, no jargão do setor, é chamado de precificação de atributos.
“A precificação de atributos passa a ser uma condição importante”, afirma o presidente da PSR, Luiz Augusto Barroso. Os recursos de flexibilidade podem estar do lado da geração (hidrelétricas e térmicas flexíveis), do lado da carga(resposta da demanda, tanto a eventos de escassez como de abundância de energia) ou de ambos (tecnologias de armazenamento, que podem oferecer tanto carga como potência para o sistema).
“O recurso escasso não é mais energia, e sim flexibilidade ou potência”, destaca o ex-diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) Edvaldo Santana. A diversificação da matriz deverá abrir espaço para novas tecnologias, como armazenamento, e também para térmicas de gás natural e projetos de repotenciação de hidrelétricas.
As usinas solares e eólicas têm também avançado nos últimos anos em um ritmo recorde o setor de transmissão, com leilões bilionários. No mais recente, o governo federal licitou a construção e a manutenção de 784 quilômetros em linhas de transmissão em seis Estados. Os leilões continuarão com volumes expressivos, com destaque no reforço da interligação entre Nordeste e Sudeste.
Cerca de 80% dos parques eólicos brasileiros estão localizados na região Nordeste, cujos ventos alísios são um diferencial de competitividade em todo o mundo. No Brasil, o fator de capacidade eólico (indicador que mensura o quanto de eletricidade é de fato produzida) está em 40%, acima dos 34% da média mundial, mas em vários momentos no Nordeste ele chega perto de 60%. Fonte e Imagem: Valor Econômico.
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